O “Golpe de 2016” descrito pela blogosfera progressista

Críticos da Lava-Jato reclamam de um levemente plausível desequilíbrio no interesse da justiça pelo PT, chamando a investigação de golpe. A partir daí podemos julgar o mérito dessa acusação.

Mas é preciso ser enfático: colocar o ex-presidente Luis Inácio da Silva pra comandar o governo Dilma não é nada menos que um golpe. No jargão democrático, dizemos que o povo elegeu a Dilma, e aquela parte deste mesmo povo que não votou nela e está insatisfeita, participou do escrutínio e deve portanto esperar a próxima eleição ou utilizar meios constitucionais para tirá-la de lá.

Contanto, se a Presidente põe outro comandatário em seu lugar, e o que é pior, um cidadão que foge de uma investigação policial, os responsáveis por essa manobra pisam no respeito que o povo ainda tem pelo processo eleitoral e político.

Até esse fato, críticos do governo Dilma tinham autoridade apenas para chamá-lo de fraude, já que a Presidente fez após a eleição muito daquilo que acusou o oponente de querer fazer. Mas agora o Governo virou um golpe de Estado do cidadão Luis Inácio e seu Partido em cima da sociedade brasileira.

Por que é um golpe? Porque fica claro que a Presidente Dilma está muita fraca politicamente, muitos aliados próximos são investigados ou em vias de o ser. O ex-Presidente Lula hoje tem mais força política do que a sua sucessora, e ao se tornar Ministro de Estado dificulta a investigação ainda pendente sobre suas supostas ligações criminosas.

Fica claro sobre quem vai conduzir o Governo daqui para a frente, ao ler os canais de mídia alinhados ao Partido dos Trabalhadores.

O site Brasil 247 diz que “ao lhe entregar a Casa Civil, o ministério mais importante, Dilma deu a Lula todas as condições para participar das principais discussões em todas as áreas do governo, ponto de passagem de toda decisão tomada no Planalto.” Em outro artigo ficamos sabendo que a “ideia é de que Lula também fique responsável pelo Conselhão”, e “no governo, Lula terá a missão de reaglutinar os aliados do governo, sobretudo o PMDB.”

No Diário do Centro do Mundo pode-se ler que uma fonte do governo, entrevistada pela Reuters, explicou que a escolha da Casa Civil foi por ser “um ministério com mais poder e mais espaço no governo”. Assim ele poderá “tentar reanimar o governo e evitar o impedimento da presidente”, e “dar uma sacudida no governo que ajude a impulsionar de algum modo a economia do país, mergulhada numa profunda recessão.”

No mesmo portal a opinião de Carlos Fernandes é a de que Luís Inácio “dará um xeque-mate em toda a orquestração político-judicial envolvendo os procuradores do MP-SP, a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira e o juiz Sérgio Moro”, já que os fatos da investigação que o cerca “serão apreciados pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.” O blogueiro confessa que “o ingresso de Lula no governo ainda aumenta infinitamente o poder de diálogo junto ao Congresso Nacional que praticamente inexistiu durante todo o segundo mandato da presidenta Dilma Roussef.”

Em um terceiro artigo do DCM, uma fonte do planalto disse que “Lula quer emplacar Henrique Meirelles na Fazenda, substituindo Nelson Barbosa, ou no Banco Central, cargo que já ocupou entre 2003 e 2011.” Além das preocupações gerenciais, a fonte citou que “outra preocupação de Lula é que Moro não mande prender sua mulher e seu filho Lulinha após o anúncio do ministério”.

Miguel do Rosario, opinativo no seu blogue O Cafezinho, pergunta “quem é o Lula que assume hoje, na prática, a liderança do governo”? Responde que é aquele “que enfrentará uma batalha muito mais difícil: libertá-lo da escravidão midiática.” Então enumera os seguintes objetivos do novo Ministro: “1) Barrar a escalada fascista […] 2) Barrar o golpe […] 3) Superar a crise econômica […] 4) Gerar empregos […] 5) Derrotar a desesperança que a mídia, sempre ela, tem procurado impor ao povo brasileiro”. Termina o texto determinando que “o primeiro efeito da entrada de Lula na Casa Civil é uma grande injeção de ânimo numa militância angustiada com as conspirações intermináveis da mídia.”

Sempre pronto a defender o ex-presidente, Paulo Henrique Amorim nos revela que “Lula não queria ter o privilégio de foro. […] Mas queria mudar o rumo do Governo. Especialmente, pela ordem: na relação do Governo com o PMDB, na política econômica virada para o crescimento, e na política de Comunicação.”

Contundente, Fernando Brito do Tijolaço deixa claro que o Governo eleito para ter somente Dilma no comando “passa a funcionar a quatro mãos.” Ela não precisa mais se preocupar com a condução do governo, pois “Dilma, que nunca escondeu e aprecia seu perfil de “gerentona”, estará mais livre para fazê-lo, agora que tem quem seja capaz de olhar no horizonte ao mesmo tempo em que cuida do diálogo político necessário.” Triunfante, o jornalista acredita que “estamos no começo do fim de duas crises: a política e a econômica.”

O site Viomundo reproduz reportagem da Folha, em uma revelação do papel proeminente do novo Ministro, que para ingressar na equipe “impôs como condição autonomia na articulação política com a base aliada e mudanças na política econômica”, estas que poderiam ser “venda de reservas internacionais, queda forçada dos juros e liberação de mais crédito na economia.” Ficamos também sabendo de suas exigências na contratação em outras pastas: “entre os nomes que Lula gostaria de levar para o governo está o de Celso Amorim […] Outros nomes, como o de Ciro Gomes, são ventilados por petistas. As mudanças na condução da política econômica podem provocar a saída do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.”

Continuando a matéria, um aliado do governo manifesta sua opinião de que “começa o terceiro mandato de Lula”, pois “agora, dizem petistas, o comando muda.” Assessores presidenciais ouvidos na matéria afirmam que um dos objetivos da nomeação foi “escapar da abertura de um impeachment contra a presidente Dilma.”

Políticos do partido da Presidente não contiveram sua alegria no site oficial: “a deputada petista Margarida Salomão (PT-MG) afirmou que […] Lula possui todos as qualidades para ajudar o Brasil a recuperar seu protagonismo.” E adiciona o hashtag #LulaVoltou.

Como pudemos ver em uma pequena amostra dos principais veículos apoiadores do governo (para que não possam acusar essa coleta de ideologicamente suspeita), Lula não entra somente como responsável “pelo Ministério mais importante”; ele tem proeminência, ele vem salvar, impõe condições, injeta ânimo na militância, vira negociador do Governo. O ex-presidente conseguiu um terceiro mandato, puxou para si o comando, tornou-se a liderança de fato. Ele vem para resgatar o Partido, mudar os rumos da economia, nomear pastas, bloquear um golpe, barrar a onda conservadora, gerar empregos, proteger sua família, dar um xeque-mate em juízes, dar fim à crise.

De acordo com estes autores, o novo Ministro salvará Dilma de um impedimento, e tirará de suas mãos o fardo de conduzir a parte difícil de ser Presidente. Ela poderá voltar a ser apenas “a gerentona”, sem problemas pois “ela gosta”.

Esse é um dia muito triste para apolítica nacional. Os próprios eleitores do Partido dos Trabalhadores saem perdendo com essa cartada política desesperada, pois o diálogo fica cada vez mais impossível, já naufragado em um oceano de frases de efeito e de ‘memes’ vulgares. Temos que lembrar aqui que é notória a existência de fanatismo político em qualquer posição do espectro político. Porém a responsabilidade do Partido dos Trabalhadores na construção desse cenário de crise insaciável é impossível de diminuir.

Ou o Brasil vai piorar lentamente por causa dessa violência institucional, ou o governo da Dilma vai sucumbir rapidamente pelos peso dos próprios erros. Sem contar a possibilidade remota, porém refletida em alguns países bolivarianos, de corrosão completa das instituições independentes que formam a democracia constitucional brasileira.

O “Golpe de 2016” descrito pela blogosfera progressista

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